No último sábado, dia 3, vi ao vivo mais uma banda pela qual ansiava, ainda mais por ser a turnê de despedida – se não definitiva, sem tempo marcado para volta: o Skank. Dos conjuntos do rock nacional, a banda mineira é a que me ligo mais fácil. Identifico-me com a sua sonoridade, energia, com os elementos que lhe atribuem uma cara bem brasileira. Suas influências do reggae, do pop, que desaguam em um rock autoral e autêntico. Certamente Samuel Rosa (guitarra e voz), Henrique Portugal (teclados), Lelo Zaneti (baixo) e Haroldo Ferretti (bateria) não são os maiores roqueiros do Brasil – e são muitos de destaque no gênero originário dos nossos coirmãos americanos do norte. Meu modesto posto mais alto no assunto vai para o baiano que fez o que ninguém fez, disse o que ninguém disse e assim também viveu: Raul Seixas. Quando falamos de Skank, a composição do som é outra. O rock pode ser muitos. Skank tem o seu rock.
Liderado por Samuel, grande artista: cantor, instrumentista, compositor, de presença marcante. A seus lados, Portugal e Zaneti proporcionam a base instrumental e compõem as canções com os vocais de apoio, enquanto que Ferretti dá o ritmo, da cozinha. Grande marca da banda são seus metais, de que desconheço a autoria. Mas quem aprecia estes instrumentos sabe como podem transformar uma música. A primeira da setlist que destaco, “É uma partida de futebol”, ecoou pelo salão do Centro de Eventos de Londrina (PR), que sediou o Skank por aqui. Composição altamente conhecida, trouxe-me sensações mais latentes, entre as quais o transporte à partida de futebol narrada. Samuel Rosa solta:
– Ôôôô, bola na trave não altera o placar – E o resto pode ficar por conta da galera:
Bola na área, sem ninguém pra cabecear
Bola na rede, pra fazer um gol
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?
Eu já. E quantos ali presentes, também? Em ser o craque que vai levando o time todo pro ataque? Ou então, o centroavante, o mais importante? Que emocionante é uma partida de futebol, e o show desses mineiros de BH! Os londrinenses aguardaram muitos anos pela volta do Skank. A resposta veio com um público de 5 mil pessoas. Do palco ao público e vice-versa, a alegria era intensa e quebrou tudo em “Vou deixar”, cantada pela plateia com o maior entusiasmo, entre a lista. Em algum momento, quem é que não quer deixar a vida levar, pra onde ela quiser? Nem que seja no show do Skank, só mesmo de gogó! É pra isso, a arte. Ferreira Gullar já nos deixou que “a arte existe porque só a vida não basta”. E as questões íntimas ou a extravagância que habita em nós, liberamos pela música.
Minha mais esperada, “Três lados” esteve também entre os melhores momentos. É dessas músicas muito felizes em tocar aquilo que há em nós de vida e amor. Skank é uma banda de clássicos, como me disse a Paulinha, minha namorada, na saída do show. Nem sempre são composições primorosas, mas contagiam e estão gravadas na mente até de gente que nem sabe muito bem quem é o Skank, mas sim, ouviu seu nome durante os 30 anos de carreira, agora interrompidos. “Saideira”, “Jackie tequila”, “Vamos fugir”, entre outras, estão aí pra reiterar. Já previa a falta de uma das minhas preferidas, “Eu disse a ela” (curte aqui), que em nada diminui um showzaço de cerca de duas horas e meia, emocionante do início ao fim. Samuel disse que nem nos melhores sonhos, imaginariam tocar para 5 mil pessoas em Londrina, ao final de três décadas de estrada. Para nós, era mais que óbvio.



Registros do show memorável, pela minha fotógrafa preferida, Ana Paula Cavalheiro.