Só de pensar em escrever sobre ele, minha autocobrança como escritor, jornalista e principalmente neto, logo aparece. Tamanha a importância e o meu amor pelo meu avô Nei. Neste domingo (6), vô Nei completa 88 anos muito bem vividos. Basta vê-lo para saber que zelou por sua vida em todo esse tempo – você lhe daria uns 70 anos. Por vezes já pensei que muito do que sou é por causa do meu avô. A começar pelo meu time do coração, o São Paulo. Ainda muito pequeno, vô Nei me vestia com o manto tricolor, e eu não lhe dava sossego nas tardes de domingo que passávamos juntos na sua antiga chácara aqui em Londrina. Após o almoço, que na maioria das vezes ele preparava, eu insistia pra que batesse bola comigo, sem querer saber se ele estava cansado da semana e da ocupação dominical de chef. Claro, vô Nei – coruja no último – nunca me decepcionava.
Se também pratico a corrida desde moleque, é também por causa do vô. Um pouco mais crescido do que no tempo citado acima, saía trotando com ele do apartamento onde morava, perto da prefeitura de Londrina, até a sua chácara, em algumas manhãs de domingo. No percurso, ele me ensinava a forma correta de respirar, de soltar as mãos, de pisar. Eu ficava fixado em meu ídolo, absorvendo seus ensinamentos. Sigo sua valiosa dica: a de correr sem fones de ouvido, sozinho, para que a corrida seja um mergulho para dentro e funcione, como ele mesmo diz, como um “divã de psiquiatra”. Um momento só meu, para estar em contato com a natureza e ver que o mundo também é repleto de beleza.
Destreza que peguei do vô Nei e da vó Marisa, que me faz falta desde 2009, foi o jeito com a escrita e a língua portuguesa. Toda minha base na matéria, na verdade, devo à minha avó, que me dava aulas semanais para me fazer não ter dificuldades no colégio. Seu objetivo foi cumprido e a afinidade foi tanta que quis ser jornalista. Vô Nei, advogado muito respeitado em Londrina e formado na primeira turma de Direito da UEL, é exímio poeta, com quem tenho o prazer de trocar escritos. Quando fui repórter de jornal, vô Nei era meu pauteiro oficial, tirando da sua vasta cartola cultural, grandes ideias de matéria. Ele me dizia rindo que era um jornalista frustrado. Mas, é sempre tempo, e ele dividia comigo esse sabor e seguimos com nosso intercâmbio literário.
Dos temas mais abordados pelo meu avô é o Espiritismo, doutrina que o transformou após o falecimento da minha avó, e que o faz melhorar como humano e como espírito, da forma como ele crê. É muito atuante na Casa do Caminho, centro espírita de Londrina que também é colégio infantil, que ajuda os mais necessitados e oferece luz e esperança às pessoas diante de suas provas. Vô Nei é fiel voluntário da Casa da Sopa, lugar onde servem sopa para moradores de rua ou a quem queira jantar e não possa pagar. Até a pandemia chegar, todas as quintas-feiras, dia marcado para a sopa, ia cedinho comprar os ingredientes no Cealon, venda atacadista de frutas e verduras. Depois, à noite, trabalhava como voluntário na casa, ajudando a servir o jantar e depois, a lavar a louça. A convite do vô, frequentei a Casa do Caminho e um pouco a Casa da Sopa, onde aprendi coisas que nunca vou esquecer.
Ainda não falei de um dom do vô Nei que é unanimidade: sua mão para a cozinha. Na maioria dos domingos, segue sendo ele o nosso chef, preparando cardápios que variam entre risoto de camarão, bacalhau, peixada, arroz com defumados, macarrão com camarão e etc. A lista é grande e sempre aberta a novas receitas, que ele, modestamente, diz depois de pronto não estar seguro se ficou bom. Para em instantes, todos saborearem e o cobrirem de merecidíssimos elogios. Quem já provou, sabe do que estou falando. Tenho certeza de que, não fosse o advogado que é e se não quisesse cozinhar por puro prazer, poderíamos montar um restaurante com seus preparos, que daria muito certo!
De todos esses, o aspecto mais importante do vô, pra mim, é que há anos ele é meu segundo pai. Com a partida da minha avó, ele foi morar em casa conosco, e a relação entre nós também mudou. Meu ideal de avô-ídolo não foi perdido, e sim armazenado junto às lembranças de criança. Há quase 13 anos, convivo diariamente com os conselhos, os puxões de orelha, o amor, os elogios, as conversas, os jogos do São Paulo e muito mais, lado a lado dele. Nem sempre nos entendemos perfeitamente, mas estamos mais reais e ligados. Estou deixando passar muita coisa sobre o vô Nei, o meu vozão, e a convivência com ele. Sei que é um baita privilégio, acho que muitos me invejam positivamente. Vô, só tenha essa certeza, de que sem você, eu seria outra pessoa, certamente pior, menos atenta, menos grata e menos amante da vida. Ainda bem que continuaremos juntos nas próximas. Feliz aniversário!



Oi Fábio, tive a sorte de ser o primeiro a curtir essa bela declaração de amor ao seu Nei . Puxa, você me emocionou garoto com este texto que transborda amor ao seu vô. Transmita a ele amanhã o meu abraço no dia do aniversário. Com certeza essa foi o melhor crônica postada aqui disparado ! Vai uma sugestão, peça a ele um texto dele para você postar aqui no Meu patrão. Eu vou esperar ansioso ! Abraço 😚
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Querido Rui, obrigado por mais esse comentário que me enche de alegria!
E você não sabe, vozão é f*** mesmo! hahaha, já me escreveu a resposta, sem saber da sua solicitação. Vou colocar aqui mesmo, abaixo do seu comentário. No final ainda tem todo o talento dele com os versos e as palavras. Fala se o cara não é demais!
Valeu amigo, abração!
Aqui vai a resposta do dr. Nei:
Fábio, é sem dúvida o melhor presente de aniversário o seu texto sobre mim. Que bom que eu tive influência positiva na sua vida, poderia ser o contrário. Mas o mérito é todo seu, pois aceitou desde pequeno o contido nas nossas conversas e corridas. Quando soube do seu iminente nascimento, coincidentemente, alterei o projeto de uma piscina em construção para incluir um espaço raso para você nela brincar com segurança. Realmente, passamos todos bons momentos na chácara. Nela, as nossas famílias quase sempre se encontravam aos domingos. Congraçamento de netos, sobrinhos e primos, todos pequenos, junto com os pais, tios e cunhados. Que delícia e quantas saudades. Pena que hoje são só recordações, e das boas, que você me trouxe na sua crônica sobre mim e a Marisa. Logo após o almoço, você não me deixava descansar, apesar da corrida, pois era o momento que eu tinha para conversarmos e melhorar e até enriquecer o seu vocabulário. E falar também do São Paulo.
Fico imensamente emocionado pelas suas palavras, sem imaginar o quanto você sofreu de influências de mim, até sobre a doutrina espírita. Sim Fábio, continuaremos sempre juntos, creio nisto e na perenidade da unidade familiar. Serão encontros e reencontros.
Mas veja o risco, Fábio, que você correu.
O neto cumprimentou o aniversariante,
Em uma crônica,
cuja tônica
Foi ressaltar o quanto foi ele importante.
Para sua formação e personalidade.
Foi até pode-se dizer imprudente
Sem perceber que o avô cumprimentado,
Já não tem das forças total domínio.
E que pela emoção do fascínio,
Corre o risco de ser enfartado.
Obrigado, Fábio.
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Mas que lindo Fábio, adorei a réplica do Seu Nei. Você teve de onde puxar o seu dom de escrever, digo duplamente porque teve a influência da vó Marisa também. Que versos espirituosos e bem encaixados, parabéns seu Nei. Aqui .. para um sábado meu coração tá disparando muito. Grande abraço.
PS: cê num leu ainda, mas na minha última crônica postada faço menção a ele também. Peça a ele conferir.
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Realmente Rui, vozão é um poeta! Depois de crescer com ele e vó Marisa em volta de mim, tinha que sair alguma coisa, né? heheh
Opa, que maravilha, e vi que postou outra já, né?! Que beleza Rui, suas crônicas colorem os dias de todos, tenha certeza!
Vou ler as duas assim que possível e passar a que fala dele, pra ele ler! Depois te envio a resposta 😉
Valeu meu amigo! Abração pra você!!
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Parabéns Fábio, são poucos como você que valorizam os Avós. Envie meu abraço a Ele pela parar em de ano.
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Obrigado você Lanza, pelo comentário! Transmitirei a ele o seu abraço.
Valeu mesmo e abração pra você!!
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