O que foi que fizeram com o meu São Paulo? Ao pensar em escrever sobre meu Tricolor, é a pergunta que martela na minha cabeça. O que fizeram com o nosso São Paulo, de mais de 15 milhões de torcedores pelo Brasilzão e pelo mundo? O futebol não difere mesmo de outras áreas, no sentido de que más gestões podem custar caro às multinacionais mais colossais ou aos mais pesados clubes. Somos tricampeões do mundo, o brasileiro com mais conquistas internacionais – ainda -, rótulo seriamente ameaçado. Há tantos e longos anos, a alegria de são-paulino tem sido a desgraça do rival, uma eventual classificação à Libertadores ou, revoltantemente, a permanência na primeira divisão na penúltima rodada do campeonato, como nesta edição. Fato nunca antes enfrentado pelo são-paulino, o que, temo, seja o prenúncio de uma iminente e inédita queda à Série B.
O São Paulo tarda a ter essa experiência. Peguemos o exemplo do gigante mineiro Cruzeiro, dos maiores do país, até “ontem” campeão nacional, com títulos da Copa do Brasil e do Brasileiro, hoje está indo ao terceiro ano consecutivo na segunda divisão. Clube que tinha tudo para manter-se bem, com os naturais altos e baixos, mas não a morada na divisão coadjuvante do Brasil, incompatível ao tamanho do Cruzeiro, do São Paulo e outros gigantes. Mas a gestão da Raposa foi desastrosa, criminosa, e o que era um fortíssimo elenco até 2019, hoje é apenas o possível para a situação, chegando a flertar com a queda à Série C.
O Cruzeiro é o exemplo que temo ao São Paulo, mas, não é porque ainda seguimos na Série A que nós, torcedores, não estamos feridos e extremamente carentes. E também não é porque saímos da seca em 2021, com o título do Paulistinha depois de quase nove anos sem uma taça sequer, que estamos minimamente conformados. Torcedor não é burro, e olha mais para o time de coração do que para a própria vida, muitas vezes. O futebol é um bálsamo social, momento lúdico e de inteira vivência a milhares de pessoas. Apaixonados, torcedores não podem tolerar ver sua paixão sendo tão destratada e diminuída como dirigentes, técnicos, jogadores (!) vêm fazendo com o São Paulo.
Como torcedor, acompanho as notícias sobre o clube e os piores cenários possíveis transmitidos pela imprensa, em relação aos bastidores. Dessa área, portanto, tenho conhecimento superficial. Os treinadores e profissionais da comissão técnica têm sim sua parcela de responsabilidade pelos resultados desastrosos nas últimas temporadas, mas culpo-os menos, justamente por conhecer os nossos jogadores – disso posso falar tranquilamente. Como já escrevi em outra postagem deste blog, em todo jogo do Tricolor, lá estamos meu avô e eu, em frente à TV. E o que vejo é que, independente da comissão técnica e até da direção, os jogadores – salvo poucas exceções – têm, na maioria das vezes, um comportamento seriamente acomodado, passando a ideia de que ganhar e ser campeão não valem o esforço.
Para o são-paulino, o maior problema não são os resultados vergonhosos, e sim a apatia, a falta de tesão, de honra à camisa e à história do clube. Não é preciso dizer, o São Paulo é maior que todos nós, do que qualquer ídolo. Impressiona como, há tanto tempo, os jogadores não levam esta ideia ao campo, salvo quando necessário ou em jogos maiores, de mais cobrança. Aí, eles se esforçam, pra poder ficar mais algumas partidas jogando só o necessário – ou nem isso. Este ano, escapamos da Série B na penúltima rodada; ano que vem, dada a situação, pode ser pior. E, às vezes, chego a pensar que só um fato drástico como um rebaixamento poderia fazer jogadores, diretores e a todos a quem a carapuça caiba no Morumbi, abaixarem a crista.
Faz muito tempo que fomos um time vencedor. É do começo do século que o São Paulo nos orgulhava, fazia-nos sentir representados. A maioria dos jogadores atuais não passou nem perto, e usar o título do Paulista como contra-argumento é escancarar a crise. Estamos cansados, mas seguiremos com o São Paulo, afinal o amamos. Este texto é só um desabafo e uma reflexão sobre a psique desses jogadores. Escolheram jogar futebol, estão no São Paulo, um clube de massa, apaixonante, campeão do mundo. E estão contribuindo para apequená-lo. Isso não os incomoda? Em muitos jogos, fazem o desgosto do torcedor, que quer sentir a alegria genuína de ver seu time jogar de verdade, e só. Não é um clamor pelo céu, e sim pelo coração: será que esses jogadores o têm?
