Avizinha-se a primavera. A alma, já preparada pela florada dos ipês, anseia pela época das cores e clima mais quente. Muitos serão avessos, contrários ao mormaço brasileiro presente em todos os cantos do país. Ele tem sido severo, é verdade, mas consigo traz a leveza de se vestir, se portar, após nove meses de vida rotineira em 2021. A primavera nos faz parar, ver a beleza e crer que, daqui em diante, tudo será melhor.
Caminhando a dois anos de imposições da pandemia – digo, quem não negou sua existência -, podemos ter um pouco mais de liberdade, sem descuidar desse vírus que é uma incógnita e que tanto estrago já causou. Eu mesmo, desde o meado do último mês, tenho convivido com incômodos resquícios do vírus, que vez em quando ainda vêm: dor de cabeça e tosse, fora o cansaço extremo que, Deus é pai, parece ter ido mesmo embora. Não faltam relatos de pessoas que ficam tempos com os sintomas – meses, inclusive.
Meu cansaço foi incapacitante, de modo que bastava começar alguma atividade para logo querer voltar à cama. A dor de cabeça, principalmente trabalhando à frente do computador, torna impossível produzir por muito tempo e mesmo ações simples como ler um livro, causa dor. Nessas horas, vemos como é bom estar bem, não estar sentindo nada e vivendo normal. O episódio me obrigou a adiar a primeira dose da vacina que tanto esperei por mais um mês. Só no último dia 13 tomei a agulhada da Pfizer e agora aguardo a segunda. Nas festas de fim de ano estarei imunizado e isso me alegra, assim como a chegada da primavera.
Tom Jobim, meu maestro soberano, compôs em “Meditação”:
“Quem acreditou
No amor, no sorriso, na flor
Então sonhou, sonhou
E perdeu a paz
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais
Quem, no coração
Abrigou a tristeza de ver tudo isto se perder
E, na solidão
Procurou um caminho e seguiu
Já descrente de um dia feliz
Quem chorou, chorou
E tanto que seu pranto já secou
Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e à flor
Então tudo encontrou
E a própria dor
Revelou o caminho do amor
E a tristeza acabou”
Genuína felicidade ir e voltar; ter a pureza de acreditar, perdê-la, mas seguir, retomar. Assim fazemos com nossas esperanças, que em momentos pareciam ir rio abaixo durante a pandemia. Esperança de ver o genocida do presidente complicar-se cada vez mais. De crer que não mais elegeremos alguém como ele, afinal as novas gerações não o suportam, ou ao menos a sua maioria. De saber que a cada problema, podemos olhá-lo de perto, de maneira a evitarmos que aconteça novamente, ou podendo reduzir seus danos.
A primavera chegou e quem na flor acreditou, como escreveu Tom, tudo encontrou. As flores existem da mesma forma que a seca e as tempestades. Saber que as flores existem nos faz passar pelas intempéries, pelos desgovernos, pela pandemia. Nada é para sempre e na efemeridade mora a beleza. Saibamos aproveitar a primavera e extrair tudo que ela nos dá para seguir em frente, acreditando e voltando sempre ao amor, ao sorriso, à flor.
Amo ver um pedacinho de mim no final dos seus textos!!
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Pedacinho que sempre atribui beleza e talento ao blog.. muito obrigado, meu amor! ;))
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Adorei Fábio ! abraço
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Valeu, Rui!! Abração!!
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Texto leve, com relatos de momentos difíceis que tem enfrentado primo amado, mas não deixa de remeter a leveza e esperança, feito você! beijãoo
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Priminha Valéria, muito obrigado pelo comentário! É isso, acho que há sempre coisas boas a se tirar e tudo passa, né?! A pandemia e a primavera, hehehe. Beijão pra você, saudades!! ;**
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