Adriano Garib, ator, escritor e jornalista, que conheci no filme Tropa de Elite e que depois descobri ter estreita relação com Londrina, minha cidade, escreveu na sua coluna de ontem na Folha de Londrina sobre o ator Paulo Gustavo, quem conheceu e ao qual teceu belos elogios, que não está fácil escolher um rumo para seu texto no jornal. Os absurdos aos quais nos deparamos diariamente nos noticiários, principalmente em relação à condução do país, geram revolta, aversão, tristeza. Ao escritor cabe abordar novos temas para fugir de tanta atrocidade e incompetência, ou é preciso reforçar os coros da indignação, evocando a tão necessária mudança? É o dilema na cabeça de Garib, e na minha também a cada novo texto que escrevo.
Deparando-me à encruzilhada, e hoje sem achar saída fácil, penso que posso fazer as duas coisas, ao passo que uma não impede a outra. Afinal, o fim do governo genocida – não há outro termo – em que estamos afundados compõe um dos meus mais sinceros e quistos sonhos. Não por ser petista ou lulista, que definitivamente não sou, mas por ser razoável. Não é preciso muito para querer algo muito diferente para o Brasil do que aí está. O ingrediente principal, uma boa dose de bom senso; cabeça em dia, buscar informações de qualidade, o mínimo de empatia e preocupação com o todo, deixar as paixões de lado… vualá! A fácil receita da descrença no desastroso presidente da República.
Torço para que a nossa entrada em um momento mais próximo à normalidade, com a vacinação em níveis ao menos satisfatórios, ocorra antes da saída de Bolsonaro, que precisa ser em 2022 – não mais que isso! O mundo está em nova fase, mas estamos indo contra a maré. O que faz o presidente, maior autoridade do país, não enxergar esse fato ou não querer fazê-lo é questão irrespondível para os brasileiros, profissionais da psicologia e certamente desafiaria Freud. Destruir para crescer já saiu de moda – que agora clama, para exemplificar, pela preservação do nosso meio ambiente. Não é uma questão de escolha, rumo de governo, é uma obrigação para com o seu povo e o mundo, no momento em que sua negligência atenta à vida de todos e, falando mais a língua do presidente, à economia nacional e suas relações exteriores.
Mas, quando se trata de Bolsonaro, nenhuma surpresa falar em atentado à vida. Não importa meio ambiente, passa-se por cima da Constituição e ignora-se a organização máxima da saúde e suas recomendações frente à maior tragédia sanitária que já enfrentamos. Espero, o leitor já conhece os crimes do presidente. Deles nasce o sonho de vê-lo longe do Palácio do Planalto. Com um novo nome ao menos respeitável, que tenha algo a contribuir, e numa fase mais controlável da pandemia, poderemos enfim colocar em prática os sonhos que começamos a cultivar agora. No meu caso, este blog é um projeto de sonho, atuação que amo realizar e que gostaria de ter uma continuidade. Se não exatamente neste espaço, ou na forma como faço aqui, distintos em algum aspecto, mas que me permitam ter ganhos financeiros com o que amo fazer: a escrita, o jornalismo, a mínima contribuição que seja na vida de alguém.
Outra grande motivação que deixei guardada dentro de mim, desde o começo da pandemia, é o desejo de viajar. Fico sonhando sobre como será chegar a lugares onde nunca estive, que irão me mostrar sua beleza e a sua novidade. Ter contato com plurais seres humanos novamente, com o aval da saúde, será realmente demais e realizador. Um mero direito de ir e vir mudou de configuração diante da pandemia, para os não negacionanistas. Nunca fui à Europa, sou maluco para conhecê-la. Mas também mais do Brasil, da América do Sul, e o que tiver oportunidade. São os meus projetos mais próximos, tudo caminhando junto à contenção ou ao fim da pandemia que tanto tem nos enlutado.
Falar sobre os nossos rumos revoltantes e o clamor da mudança é obviamente necessário, assim como manter sempre vivos os sonhos e novos lugares a pisar. Eles nos dão força, lembram-nos que temos e que podemos ter mais. Hoje, Bolsonaro é o presidente do Brasil. É a era da incompetência, da truculência, da insanidade. Cabe a nós, que iremos às urnas novamente no ano que vem, digerir tudo isso e teclar uma resposta. E que nunca mais abramos mão da razoabilidade, da paz, que precisa estar ali para que possamos sonhar de novo, viajar de novo, ver quem amamos, sabendo que o poder que nos representa estará ao menos preocupado em nos manter todos vivos e acreditando, não mais temendo.

Fábio, adorei o seu texto ! Parabéns ! Eu também fico nesse dilema … Enquanto o mundo e o Brasil especialmente, pegam fogo , como eu falar de amenidades e das minhas experiências de vida no blog? Pior ainda , muito bem protegido no meu bunker e fingindo que o governo genocida atual não exista?
Por outro lado, como manter o ecumenismo político partidário que eu sempre acreditei no meu blog, empunhando a bandeira de não negacionista nele ?
Meu primo e colaborador do blog Aposentei dessa vida , Ernesto , recomenda que eu tenha um blog específico para tal …
Como assoviar e chupar cana num momento terrível como esse ?
Eu sinceramente não achei a resposta , enquanto isso continuo a escrever o que o meu coração mandar, apenas para não enferrujar, tem me faltado inspiração.
Mesmo adotando uma postura menos militante, lamento os queridos amigos e parentes negacionistas que perdi nesse ano e meio que passou.
Mas não se baseie por mim meu amigo, eu com 30 anos era bem mais verdadeiro e coerente do que agora ! O tempo nos domestica de alguma forma… por isso nas revoluções os maduros são minoria !
Cada texto seu que leio, te admiro cada vez mais um pouco ! Continue assim lançando mísseis Exocet e Tomahawk da sua base.
Grande abraço !!
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Eita, Rui! Também sempre aprendo muito com você, com as suas experiências que traz consigo, mas claramente de quem as vive de forma verdadeira e profunda.
Obrigado pelos elogios! Acho que acima de tudo escrever é estar nesse caminho, buscando a melhor forma de caminhar, mas estar na lida. Ainda mais por não ser uma ciência exata, né?!
De todos, você tem razão, acho que a melhor bússola é o coração. E a rima não foi intencional.
Valeu demais, Rui!
Abraço apertado!!
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