Hernán Crespo precisará lidar com mentalidade acomodada e prepotente no São Paulo

Quase nem acabou uma temporada de futebol, começou a próxima, e o futebol do São Paulo continua o mesmo. Na verdade, o que não muda no São Paulo é o mental. Entra e saem anos, jogadores e técnicos, vi sim em todo esse período de seca de títulos que já ultrapassa oito anos, maneiras distintas de o time jogar futebol. No entanto, está instaurada no clube uma mentalidade prepotente, acomodada e ilusória, que faz o time perder força em campo e, cada vez mais, o respeito dos adversários.

Quem vos fala é um são-paulino fiel, que acompanha sagradamente cada jogo do Tricolor. No último domingo, como de praxe, lá estávamos meu avô e eu a postos para assistir à estreia do nosso novo técnico, o consagrado ex-jogador argentino Hernán Crespo, que inicia a carreira de treinador. Na temporada passada, alcançou o primeiro título no cargo com o pequeno clube argentino Defensa y Justicia, campeão da Sul-Americana 2020. Uma aposta da cúpula são-paulina, que parece ter sido bastante estudada e discutida.

Acredito no potencial de Crespo, jogador de destaque mundial – é o quarto maior artilheiro da história da seleção do seu país -, que espero, vá oferecer a “gana” argentina que seria muito útil ao São Paulo. Senti, na estreia do técnico, mais consciência na recomposição, até um pouco mais de intensidade do que nas partidas anteriores. Mas o caráter são-paulino é mais profundo e estava lá, marcando presença.

O adversário da noite, o Botafogo de Ribeirão Preto, acaba de ser rebaixado para a Série C do Campeonato Brasileiro. Não preciso dizer do abismo técnico entre as equipes. O São Paulo sabia disso e, como sempre acontece quando joga contra times inferiores a ele, perdeu muitos gols, no primeiro tempo. Foi para o intervalo com o placar zerado com o rival de Ribeirão. Logo no início da segunda etapa, tomou o gol que acendeu a luz vermelha na equipe, que precisava correr atrás da vitória dentro do Morumbi.

Conseguiu um mero empate, que foi o placar final. Este é o resumo do São Paulo de muitas temporadas. Um time que acha que fará o resultado quando quiser, que não valoriza as oportunidades de se colocar à frente; que é castigado por sua displicência e que, aí, resolve acordar e jogar com o ímpeto devido. Mas aí, é claro, as circunstâncias não são as mesmas. Está mais longe da vitória, e o adversário, ainda mais fechado.

Contra times melhores, como foi contra o Flamengo no jogo anterior, pela última rodada do Brasileirão, a postura é outra. O time sabe que precisa estar atento desde o apito inicial para não sair atrás no placar. Joga bem postado, concentrado e consciente do que precisa fazer. Não me é estranho o São Paulo ter vencido o campeão brasileiro naquele jogo, e ter perdido ridiculamente do lanterna e primeiro rebaixado Botafogo (RJ) no jogo anterior. Parecem dois times diferentes, um determinado e consciente, o outro negligente e distraído.

Mais do que todos os problemas com os quais Crespo e sua comissão técnica precisa lidar na chegada ao São Paulo, julgo ser este o principal e talvez a chave a ser virada, até como citou o novo diretor de futebol do São Paulo, Carlos Belmonte, em sua entrevista ao programa Bola da Vez da ESPN. Belmonte citou justamente essa diferença de comportamento dos dois últimos jogos do Brasileiro, e que foi visível de novo na estreia do Paulista. Pelo menos alguém que está chegando na direção está vendo isso, pensei.

Mas não basta enxergar, é preciso transformar o decisivo comportamento. Não sei se perdura ainda pela força histórica do São Paulo, da própria qualidade do elenco que, mais em algumas temporadas, menos em outras, sempre esteve ali. Pode parecer óbvio, mas os jogadores têm de entender que jogo se ganha em campo, e é preciso bem mais que teoria para conquistar.

O futebol está altamente competitivo, e cada detalhe tem influência nas decisões de jogos e campeonatos. Basta ver o último Brasileirão, decidido no último lance. O São Paulo pode voltar aos títulos, mas precisa se enxergar primeiro. O clube é sim gigante, mas também é a nossa carência e o nosso luto. Neste esporte, resultados fazem o sucesso, nada mais. O clube se pintou de Soberano, agora precisa se ver como um necessitado apequenado para se responsabilizar e, com troféus, honrar o seu tamanho e a sua história.

Time que começou o jogo contra o Botafogo (SP) perdeu costumeiras chances de gol e arrancou mero empate no Morumbi

Publicado por Fábio Blanco

Jornalista, natural de Londrina (PR), que quer explorar o que o encanta no mundo através da escrita. Apaixonado por futebol, música e pelas belezas do cotidiano, em detrimento das suas regras e poderes. Humano, acima de tudo.

2 comentários em “Hernán Crespo precisará lidar com mentalidade acomodada e prepotente no São Paulo

  1. Oi Fábio, antes do jogo Palmeiras x Grêmio , eu assisti um pouco do SPFC contra o Botafogo de RAO . Que tristeza , igual cê falou , nem parecia o mesmo time que jogou contra o Flamengo…
    Meu amigo Paulo que é urologista, falou um dia pra mim que pacientes jovens que falham uma, duas, três vezes vão ao seu consultório . Ele receita meio comprimido de Viagra, o cara volta na semana seguinte já curado e não precisa mais do remedinho.
    O que o seu time tá precisando é a pilulinha azul … O problema é a cabeça! Abraço e parabéns pelo post . Vou encaminhar aos meus amigos Bambis!

    Curtido por 1 pessoa

    1. É rapaz, há quanto tempo eu assisto a esse comportamento do meu time, viu!
      E como vi o jornalista Vitor Birner – são-paulino, inclusive – falando esses dias, futebol é um esporte que se joga com o cérebro, mas se executa com o corpo.
      Cabeça é tudo mesmo, no futebol, no sexo, como disse aí, e em tudo.
      O mental do meu time tá zoado há tempos, espero que o Crespo ajude nisso.
      Obrigado, Rui, espero que seus amigos gostem!
      Abraço apertado!!

      Curtido por 1 pessoa

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