Era começo de 2015. Estava de férias em Pernambuco, com minha família. Estávamos hospedados na famosa e bela Porto de Galinhas, e em um dos dias da viagem, fizemos uma excursão para visitar Recife e Olinda, que são praticamente a mesma cidade. Para os meus conterrâneos, é como Londrina e Cambé. Pois bem, em Olinda, em uma pausa em uma loja de produtos locais, onde também assistimos a uma breve apresentação de frevo, um rapaz nativo que ali estava me abordou dizendo: “vocês vão voltar no carnaval, né?! Vocês têm que vir aqui no carnaval, é bom demais!”. Seu orgulho e alegria com a proximidade do carnaval era tanta que nunca saíram da minha cabeça. Claro que não voltamos naquele carnaval, que seria dali pouco mais de um mês. Em sua simpatia, meu amigo pernambucano não considerou mais custos com voo, hospedagem, alimentação etc. – nada baratos.
Em 2021, passei o carnaval em Pernambuco, e o sábado em Olinda. No entanto, em uma situação completamente diferente à narrada pelo rapaz com quem troquei algumas palavras, anos antes. Dessa vez, minha companhia foi a Paulinha, minha namorada. Foi a primeira viagem que fizemos só nós. Ela queria ir para o Nordeste nas suas férias, e pensamos até resolver o destino. Decidimos, diferente da minha ida anterior, que ficaríamos hospedados em Recife, de forma a diferenciar a turistada tradicional das praias mais badaladas, como Porto de Galinhas. Eu queria sentir um pouco da vida em uma capital tradicional do Nordeste. Paulinha gostou da ideia e lá fomos nós.
Separamos um dia para ir a Porto de Galinhas, outro à Praia dos Carneiros. Alugamos um carro na capital e caímos na estrada, admirando a abundância de coqueiros pelo caminho. Contemplamos o mar azul esmeralda de cair o queixo de cada uma dessas praias, passando por seus lindos pontos turísticos. Fim dos passeios, rumamos de volta a Recife, onde ficaríamos até pegar o voo de volta. Hospedados no belo bairro de Boa Viagem, foi inevitável cantar inúmeras vezes trechos de “La Belle de Jour”, do grande pernambucano Alceu Valença.
“Eu lembro da moça bonita
Da praia de Boa Viagem
E a moça no meio da tarde
De um domingo azul
Azul, era Belle de Jour
Era a bela da tarde
Seus olhos azuis, como a tarde
Na tarde de um domingo azul
La Belle de Jour…”
É pela canção de Alceu a opção por Boa Viagem; é pela poesia de Vinicius de Moraes a escolha por Ipanema, e pela reverência ao mar de Caymmi o desejo por Salvador. Essas capitais respingam a história e a cultura do Brasil, podendo se sobressair à beleza estonteante das praias mais turísticas do país. E também não me importa se vou até lá e não encontro nada. Só de estar, meu coração se acalma. Como não vivi a época de maior criação musical no Brasil, ir até onde isso aconteceu me faz sentir mais perto de caras que eu adoro.
Assim foi na capital pernambucana, nas vielas do Marco Zero e do Recife Antigo, onde estão as casas que abrigam os Bonecos Gigantes de Olinda e também os tradicionais do Maracatu. Paulinha e eu tivemos uma aula sobre a cultura pernambucana, que precisou sair de cena neste carnaval. Quando andávamos pelo Marco Zero, fomos abordados pelo jornalista Fabson Pereira, do Diário de Pernambuco – o mais antigo jornal em circulação na América Latina. Juntamente ao fotógrafo Arnaldo Sette, faziam uma reportagem com o público local e turistas sobre a ausência do carnaval em 2021. Com muita satisfação, Paulinha e eu fomos a voz dos turistas e dissemos da nossa alegria em estar ali, conhecendo um pouco de Pernambuco e dos pernambucanos, mesmo sem carnaval.
Lembrei, na minha fala, a viagem de seis anos atrás com minha família. Ainda mais quando fomos a Olinda, no dia seguinte. A parte histórica estava tranquila, e havia fiscalização para impedir aglomerações. A cidade estava em lei seca. Fomos acompanhados pelo André, que foi nosso motorista e professor, dando-nos uma aula sobre Olinda, que por sinal está muito bem cuidada e muito florida – em diversas de suas casas antigas e coloridas, flores também de todas as tonalidades caíam do teto às paredes. Em meio às casas, lá estava a de Alceu Valença, onde o André nos disse que faz shows na sacada durante o carnaval.
Sentia um misto de encantamento e frustração, afinal, estava em Olinda, um templo carnavalesco, e sem carnaval. Mas, com meus botões, me peguei rindo, lembrando do pernambucano que me convocara ao carnaval olindense de 2015. Meio que conversei com ele: “rapaz, não foi dessa vez, mas cheguei perto. Um dia eu sigo sua recomendação, e brincarei carnaval na sua Olinda”. Por ora, ficam as lembranças lindas de Pernambuco com a minha moça bonita da praia de Boa Viagem, Paulinha.
Resquícios de Carnaval em Olinda A casa de Alceu onde faz shows na sacada Flores que colorem as casas e ruas olindenses Porto de Galinhas, famosa pelas piscinas naturais Igrejinha dos Carneiros, na belíssima praia pernambucana Rua de Recife Antigo Paulinha e eu no Marco Zero Praia de Boa Viagem, cenário de “La Belle de Jour”
Que lindo!! Cheguei a viajar junto!!!
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E você viajou mesmo, né, mamãe?! Estávamos juntos na passagem de 2015, hehe.
Obrigado! ;**
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“Ó linda situação para se construir uma vila …”boas memórias desta vila… Lindo texto Fábio !
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Isso mesmo, dinda!! O André, nosso guia, não deixou passar essa! hehehe.. obrigado pela leitura e comentário, dinda!!
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Oiee Fábio, arrasou !
Adorei o conteúdo do texto, a transição do passado e futuro, a disposição da letra La Belle de Jour e o fechamento então com a sua moça bonita da praia de Boa Viagem, Paulinha, la belle-de-jour!
Parabéns !
abraço
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Obrigado, meu amigo. Sempre bom ter você aqui. Abraço!!!
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Meu moço bonito da praia de Boa Viagem! Sua escrita sempre me encanta. Continue trazendo luz através das palavras, sempre!
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Ô meu amor.. meu coração parou aqui! hahaha… obrigado, linda, por tudo! ;***
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