“Aposentei dessa vida, agora dirijo empresa de sonhos”. A frase é da canção Dentes Brancos do Mundo, de Marcos Valle, à qual Rui Sérgio Tsukuda acrescentou o “agora” para traduzir seu momento presente. Engenheiro químico de formação, é um escritor em essência, aptidão que começou a descobrir na adolescência, e que a carreira profissional acabou por encobrir. Agora aposentado da vida que trilhou, acaba de sair do armário, como ele mesmo diz: começou um blog onde escreve sobre diversos temas que rodam seu cotidiano, vivido desde 2002 em Belo Horizonte (MG), onde mora com a mulher Virgínia e os filhos Lucas e Mariana.
Minha ligação com Rui passa pelo histórico familiar e, quase 50 anos depois, pelo encontro de afinidades. Ele, como eu, nasceu em Londrina (PR), em 1964, quando começava a ditadura militar no Brasil. Neto de japoneses, teve forte influência da cultura nipônica, e também por isso compunha o time de jovens nadadores da Acel nos anos 70, época em que o esporte era forte no clube e onde também nadavam a minha mãe e minha tia, que, já ouvi muito falar, era como um peixe na água.
Pouco tempo depois Rui mudou com a família para Maringá (PR), onde o pai montou a própria empresa, e posteriormente para Curitiba (PR), onde terminou o ensino médio. A vocação lhe sugeria uma carreira nas ciências humanas, como um curso de Filosofia, por exemplo. Mas, receoso pelas cobranças da vida adulta em plena adolescência, optou pela carreira de engenheiro que os tios já trilhavam. Ótimo aluno, entrou em Engenharia Química na UFPR antes de completar 17 anos. Mas a falta de vocação o levava a escapadas no meio da aula para assistir a filmes, que resultou em bomba no primeiro ano. Como bom descendente japonês, foi cobrado à altura pela família por uma resposta, que deu na sequência formando-se em seis anos, em 1988.
Com o canudo de engenheiro, o tio o arrumou um trabalho de chefia na CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), que ficava na cidade de Alumínio (SP). Aos 23 anos, Rui liderava cerca de 80 funcionários, alguns, bons anos mais velhos do que ele. Após 11 anos, mudou-se com a família para São Luís (MA) para trabalhar na Alcoa, uma das maiores empresas de alumínio do mundo. Perguntado pelo chefe aonde almejava chegar, Rui lhe disse que gostaria de voltar ao Sul, e o chefe se estarreceu, esperando uma resposta como uma promoção à filial dos Estados Unidos, Austrália ou alguma outra, e o clima para ele na empresa gelou. Após três anos na Alcoa, foi para Belo Horizonte trabalhar na Votorantim.
Na capital mineira, voltou a se encontrar com a escrita com crônicas de Natal que enviava a familiares e textos semanais para motivar seus funcionários, antes da divisão em que atuava ser vendida à multinacional belga Lhoist, que deixou em 2014 para assumir o último trabalho como engenheiro, na francesa Imerys. Foram mais três anos até ser demitido por corte de custos, o que adiantou a aposentadoria de Rui. Com a situação financeira mais estável, viu o momento de se dedicar ao que faltou durante a vida. Viu todos os filmes que pôde, perdeu peso e fortaleceu a espiritualidade. A paixão pela escrita ainda estava adormecida até o nosso encontro, na semana passada.
Rui teve acesso a este blog pela minha mãe, que compartilhou no Instagram, e eis que eu ganhei um amigo! Ele se identificou fortemente comigo, com minhas ideias e gostos, e desde então conversamos muito sobre a vocação de escrever. Inclusive me confessou que se pudesse voltar atrás, não teria sido engenheiro, apesar de ser grato à profissão com a qual sustentou sua família, fez amigos, viagens e tudo mais. Mas, disse-me que Chico Xavier o salvou falando que se não é possível voltar atrás e fazer um novo começo, todos podemos recomeçar e fazer um novo fim.
Para Rui, escrever é uma forma de exercitar a empatia, podendo explanar pontos de vista que contribuam com a vida de alguém. Este é o legado que quer deixar, não necessariamente de forma extraordinária, mas que faça uma mínima diferença e, também, lhe dê prazer. Aos 56 anos, quer comer as jabuticabas até o caroço, referindo-se ao texto “O tempo e as jabuticabas” de Rubem Alves, que transcreve em um de seus escritos, que Rui quer transformar, um dia, em um livro.
Por ora, as portas do armário que se abrem com o começo do seu blog é a grande satisfação de Rui. Gentilmente, ele me intitulou como seu padrinho. Saiba você, Rui, que por sua vez muito me encoraja a seguir no meu caminho menos óbvio, como disse, porque não queremos passar por esta Terra e ter apenas poluído o ar, não é mesmo?
Obrigado de coração, amigo. E muito sucesso na sua vida de sonhos como escritor.
Blog do Rui: https://aposenteidessavida.com/

Puxa Fábio, o que dizer depois que ler este texto em homenagem à mim que não seja o meu muito obrigado de coração ?
Como lhe falei, acredito que as coincidências não existem , pois são truques de Deus para não ter que explicar muito.
Um bom esbarro ou no nosso caso, um encontro à distância ou virtual é assim: Cada um chega nele com o que tem no coração e sai dele revigorado com o que ganhou e conseguiu dar ao outro . É o tipo da relação ganha – ganha , mas neste caso, diferente da comercial, totalmente desinteressada e pura.
Agradeço a Ele por sua existência e a você por me empurrar com delicadeza rumo ao precipício. Eu estava precisando deste tranco ! Por minha vez, quero ficar com a ilusão que de alguma maneira também contribuí na sua confirmação pessoal de que a carreira de Jornalista foi a sua melhor escolha, quem sabe a melhor decisão da sua vida.
Proponho continuarmos a nos encontrar , assoprando a flor branca que viaja, o Dente de Leão, estimulando mais Ruis e Fábios perdidos por aí a se esbarrarem pela vida, como você colocou , estabelecendo uma espiral positiva do bem, como um oásis nesta paisagem tão seca e árida.
Um grande abraço
Rui
CurtirCurtido por 1 pessoa
Ôxi Rui, agora eu vou falar o quê? Assino embaixo em tudo que disse, menos na parte da ilusão. Pode ter certeza que contribuiu para mim como jornalista e como pessoa, encontros como o nosso fazem toda a diferença. Obrigado você por ter aparecido e sigamos soprando o Dente de Leão. Valeu, amigo!
CurtirCurtir
O Rui já conheço de longa data. Contador de histórias como ninguém, memória incrível e coração enorme. Tô feliz que resolveu escrever pra todos nós! Que os dois amigos, Rui e Fábio continuem na sua jornada, com muito sucesso! Gratidão !!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Olá, Neide!! Nossa, que maravilha receber seu comentário.
Realmente, não conheço o Rui pessoalmente mas logo de cara já consegui perceber todas essas características que você citou.. foi um grande presente pra todos nós ele ter criado o blog e estar escrevendo suas deliciosas crônicas.
Muito obrigado pelo seu comentário e fica o convite pra acompanhar o blog aqui também, ok??
Um abraço!
CurtirCurtir